Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa -- COM SPOILERS --

 


Falar desse filme sem dizer o que acontece nele é quase uma sessão de tortura. Afinal meus amigos, esse é o filme que todos os fãs do Aranha estavam esperando. Se você assim como eu gosta de uma boa promoção, Sem Volta Para Casa é o filme perfeito. Você paga 1 ingresso e assiste 3 filmes. O 3º filme da franquia 'Home' (protagonizada por Tom Holland), o 3º filme da franquia 'Espetacular' (protagonizada por Andrew Garfield) e o 4º filme da franquia original dirigida por Sam Raimi (protagonizada por Tobey Maguire). Embora o esforço contínuo dos envolvidos na produção do filme em esconder ou desmentir isso tenha sido colossal (ainda que cheio de trapalhadas), os três Peter Parker compartilham a tela nessa aventura SIM! E é da melhor forma possível.

De modo geral, Sem Volta Para Casa é uma fanfic que virou realidade. Basicamente TUDO que os fãs imaginaram, teorizaram ou gostariam que acontecesse no filme, aconteceu. Após ser falsamente acusado pelo Mistério de assassinato e ter a identidade secreta revelada, as coisas começam a dar muito errado na vida de Peter Parker. O garoto é imediatamente preso e interrogado pela polícia. Felizmente, os problemas com a lei do Homem-Aranha são resolvidos por um certo advogado cego de Hell's Kitchen. Isso mesmo, Matt Murdock dá as caras novamente, interpretado com talento e maestria por Charlie Cox numa cena muito bem escrita e realizada. Ainda que tenha sido inocentado, Parker precisa ir para a escola escoltado como um rockstar, enquanto uns o idolatram outros o chamam de assassino... Não bastasse isso, após ser impedido de entrar no M.I.T pela recente polêmica, os colegas de Peter também são rejeitados pelo mesmo motivo. E é aqui que o filme começa acontecer.

Ao encontrar Strange, Peter queria inicialmente que o mago voltasse no tempo e impedisse que o Mistério revele a identidade do Homem-Aranha, mas como o próprio feiticeiro lembra, a jóia do tempo não existe mais. Ainda assim, Stephen se compadece do garoto e resolve usar um feitiço para apagar da mente das pessoas do mundo inteiro que Peter Parker e o Homem-Aranha são a mesma pessoa. Como mostrado nos trailers, a artimanha dá xibu e o que acontece é que pessoas de outros universos que sabem que Peter Parker é o Homem-Aranha começam a brotar no UCM. A luta com o Doutor Octopus na ponte infelizmente foi mostrada toda nos trailers, então não tem muito com o que se empolgar. Mas é bem feita e ainda com as patas adicionais, os tentáculos do Dr. Octavius são imbatíveis.

As cenas em que os vilões interagem entre si são de rachar de rir. Cada um com as suas bizarrices fica zoando o outro. O roteiro foi inteligente em fazer do Duende o vilão principal. Enquanto os demais inimigos são adversários físicos para o Homem-Aranha, a mente doentia e diabólica do Duende (Willen Dafoe) veio para trucidar o coração e a mente do Peter Parker. As repetições das falas de filmes anteriores aquecem o coração dos fãs. Por exemplo, ao descobrir que os vilões morrem nas suas realidades em decorrência de seus confrontos com seus Homem-Aranha, Parker decide ajudá-los a não serem mais vilões. Quando Peter diz que vai precisar de ajuda para desenvolver as curas Norman Osborn diz: "Eu posso te ajudar. Sabe, eu sou um cientista também". Replicando com  perfeição a exata entonação da cena em que Norman conhece Peter em Homem-Aranha de 2002. Paralelos são feitos aqui: Norman e Octavius novamente se impressionam com a genialidade de Peter Parker.

O amadurecimento não existente do Parker de Tom Holland, um ponto criticado por muitos (inclusive por mim) se dá aqui de forma brutal na morte da tia May. Após o sentido aranha avisar Peter que Osborn mudou de lado, os dois se enfrentam e o Homem-Aranha de Tom Holland é lindamente espancado pelo Duende Verde. Não satisfeito em quase matar o herói, o Duende assassina a tia May empalando-a com o planador (o que não fica explícito na tela pelo PG-13 mas, fica óbvio pela cena). 

Desesperados para encontrar o amigo Michelle e Ned começam a abrir portais procurando por Peter Parker, e é aqui que eles acidentalmente trazem Andrew Garfield e Tobey Maguire de volta. A química dos 3 Aranhas em cena é perfeita. Os atores conhecem tão bem seus papéis que nenhuma mudança é notada em seus respectivos tipos. Andrew continua o piadista verborrágico enquanto Maguire encarna com naturalidade e perfeição sua versão, na falta de um termo melhor, "mongolona" e doce de Peter Parker. A primeira cena entre os três vai fazer muito marmanjo chorar que nem criança. Não apenas por conter os três intérpretes do Aranha mas por ser carregada profundamente de sentimento e drama. Piadas sobre teias orgânicas, lançadores de teia e referências aos filmes antigos acontecem na medida certa. Inclusive se você prestar atenção, vai perceber que o meme dos 3 aranhas foi recriado na cena do laboratório.

O embate final embora um pouco confuso pela velocidade da cena, é bonito e empolgante. A cena dos três aranhas partindo unidos pra porradaria é sensacional. Ao final, para conseguir conter as fendas no tecido do espaço-tempo, Strange com o consentimento de Peter apaga da memória de todos as pessoas (sem exceção) quem é Peter Parker. O filme termina em nota alta: Sem nenhuma tecnologia ao seu dispor, sem amigos, sem parentes, sem dinheiro e literalmente sozinho, Peter vai morar no apartamento alugado do Sr. Ditkovich (SIM, o mesmo senhorio da trilogia Raimi) que aqui aparece só a voz e faz com uma humilde máquina de costura um traje simples (mas muito bonito) de tecido comum que une características visuais do seu uniforme e dos demais aranhas como inspiração. Peter cresceu, não precisa mais do Homem de Ferro e das suas bugigangas. A tela escureceu, o filme acabou e todo mundo chorou. Sem Volta Para Casa é a despedida digna dos aranhas anteriores e o recomeço de Tom Holland como uma versão madura do personagem que ainda tem muito chão pela frente.

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