Zack Snyder Faz Justiça Com a Liga
Quando Liga da Justiça estreou em dezembro de 2017, ficou nos fãs e no público o sabor ruim na boca. A produção era no mínimo medíocre: Um roteiro simplório, vilão sem sal, personagens descaracterizados e a única boa cena de ação do filme era um embate entre os próprios heróis. O Longa amargou uma fraca bilheteria e desbancou Ben Affleck e Henry Cavill dos papéis de Batman e Super-Homem, respectivamente. Acontece que o filme de 2017 era produto de uma decisão executiva e de uma tragédia. Durante a pós produção do filme, a filha adolescente de Zack Snyder (diretor do filme) cometeu suicídio. Usando desse fatídico acontecimento a Warner Bros, que tinha medo de o filme não agradar a crítica e o público, afastou Snyder e contratou Joss Whedon (diretor do primeiro e segundo Vingadores) para finalizar o filme. Whedon entra mais como um representante dos executivos do que como diretor, cortando o filme para 2 horas de duração e enchendo ele de piadas. Curiosamente, a Warner Bros encontrou o destino que não queria pelo caminho que tomou para evitá-lo.
Após 3 anos de campanhas on-line, através do HBO Max chega a nós Liga da Justiça de Zack Snyder ou como é conhecido na internet, o SnyderCut. Essa versão de Liga da Justiça, é o filme original do diretor, antes de ter sido afastado e ter sua obra picotada e distorcida por executivos e um desrespeitoso colega de profissão. E pra calar a boca de muita gente que dizia que essa versão do filme não existia ou que era inassistível, ele existe e é muito bom.
A primeira mudança no filme é o visual do vilão da película. O Lobo da Estepe (Ciarán Hinds) ficou muito mais ameaçador com uma morfologia mais bestial, uma bio-armadura inteligente e um propósito melhor explicado. O personagem era o comandante das forças de Apokolips, planeta governado pelo tirano Darkseid (Ray Porter). Após um erro ele foi exilado e tem uma promessa de remição caso conquiste a Terra para seu cruel soberano. Além disso, o personagem tem uma personalidade muito mais cruel no corte de Snyder. Algumas das maiores melhoras do filme giram em torno do Lobo da Estepe: Agora sabemos de onde ele vem, a quem ele serve, quais seus objetivos...
Falando dos personagens que compõem o grupo que dá título ao filme, Zack Snyder trabalha cuidadosamente cada um deles. Aquaman, Flash e Ciborgue ganham muito mais história, emoção e importância dentro da trama. O Flash de Zack Snyder ainda é o alívio cômico do filme (e graças a Deus o único), mas aqui o humor do personagem é mais pontual, natural e melhor executado. O Aquaman se distância bastante da versão surfista burro do filme original e do seu próprio filme de 2018 e assume um tom introspectivo, sóbrio, empático e porque não, inteligente. Arthur está sempre com o pé atrás nas decisões da equipe durante o longa, mostrando os contras de cada opção. Mas sem dúvida Ciborgue é o personagem que mais ganha nessa nova versão. Todo o drama e trauma do personagem é muito melhor explanado e torna-o realmente indinspensável para a trama. Batman ganha uma interpretação bem mais condizente com o personagem e com o talento de seu intérprete.
Outra trama que fica muito melhor contextualizada e executada é o retorno do Super-Homem (Henry Cavill). O personagem se sacrificou em Batman Vs Superman para dar cabo do monstro Apocalipse criado por Lex Luthor e agora, os heróis vêem que ele faz falta na hora do vamos ver. A decisão de trazê-lo de volta aqui é praticamente unanime, sendo os únicos contra a ideia Aquaman e Alfred. A argumentação de cada personagem no debate que antecede o ritual de ressurreição do Homem de Aço é bem escrita e convincente, além disso todas as cenas com o personagem estão perfeitas tanto em tratamento de personagem como tecnicamente.
Com uma trilha sonora menos genérica que dá mais corpo as cenas e combates bem elaborados tanto individualmente como quando em grupo, o terceiro ato do filme é bem mais empolgante e faz jus a fama da equipe. Apesar de ainda ficar, mesmo que bastante amenizada, a sensação de que o Super-Homem era o único capaz de descer a porrada no Lobo da Estepe, cada personagem ganha seu momento de brilhar e de importância no combate final, com destaque para o Ciborgue e o Flash (quero só ver o filme solo superar o que ele fez aqui).
Com nada menos do que 4 épicas horas de duração, Liga da Justiça de Zack Snyder não só justifica sua existência como também mostra do que o público é privado quando a vontade dos executivos de Hollywood passa por cima da liberdade criativa dos diretores a frente dos projetos. Além de ser uma homenagem a sua falecida filha e o encerramento do seu luto, o filme é a prova cabal de que Zack Snyder sabe muito bem fazer um filme de super-heróis que empolga, diverte e agrada o público.
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