Falcão e o Soldado Invernal - Análise



*** ATENÇÃO! ***
*** O TEXTO A SEGUIR PODE CONTER SPOILERS! ***

Primeiramente é importante dizer que na minha humilde opinião, o Capitão América foi o personagem mais bem construído do MCU (Marvel Cinematic Universe). Ao longo dos 10 anos de história que foram concluídos em Vingadores - Ultimato Steve Rogers inciou sua trajetória e a concluiu em pontos completamente diferentes. Teve uma trajetória de evolução de pensamento, mentalidade mas ainda assim não perdeu sua alma, sua moral. E o seu final é muito mais condizente com o personagem do que o fim de Tony Stark. Mas não estamos aqui pra falar de Steve Rogers e nem do Homem de Ferro. Embora esse parágrafo inicial vá mostrar sua importância mais para frente no texto. 

O Falcão e o Soldado Invernal começa poucos meses após os eventos de Vingadores - Ultimato. Sam Wilson está vivendo sossegadente enfrentando os perrengues de manter os negócios da família (tarefa que se prova mais difícil do que enfrentar a armada de Thanos) embora de quando em quando dê uma força pros militares. Bucky Barnes teve todos os seus crimes perdoados devido à sua ajuda na batalha contra Thanos, está fazendo acompanhamento psiquiátrico, mas ainda não se sente à vontade no mundo. 

Sam Wilson e Bucky Barnes.

Chegando na sequência de WandaVision, que é bem mais fechada em seus personagens, O Falcão e o Soldado Invernal tem um diferencial bem atraente: Explora as consequências da volta de todas as pessoas que haviam sido desintegradas em Guerra Infinita. Afinal, o mundo tinha superado, ou ao menos aprendido a viver com a perda de metade da população. As pessoas, os governos e a sociedade se adaptaram a isso. E aí 5 anos depois, todos os que tinham partido voltam e é um novo caos instaurado. Em meio a isso, há aqueles que preferiam o mundo do jeito que ele estava, e com toda essa bagunça, as pessoas precisam de seus heróis para ter algum tipo de esperança. 

A série se propõe a trabalhar o legado do Capitão América. Ora, Rogers havia deixado o seu famoso escudo para Sam Wilson. Deixando claro o seu desejo de que o amigo assumisse o manto. Porém o legado de Steve se mostra um fardo que devido a seus próprios problemas pessoais, Sam não está disposto a carregar. Afinal, nos cinemas o Capitão transcendeu a bandeira que vestia como traje e se tornou um farol de integridade moral, coragem, fibra, justiça e liberdade para todos os povos. Como atender a essa expectativa? E isso é algo muito interessante de ver, já que nos filmes (exceto talvez pelo primeiro) as histórias do Capitão América não mostravam muito de como o mundo via ele.

Se por um lado Wilson se vê aliviado abrindo mão do escudo, Bucky o vê como um traidor da confiança do amigo. E não está nada contente com isso. Ainda mais depois de o governo americano escolher dentre os seus homens um novo Capitão América. Afinal, as pessoas precisam do ícone. Mas fica a pergunta: O Capitão América é o traje e o escudo, ou o homem que os usa? Sei que foi longo, mas precisava contextualizar as coisas. E acredito que não tenha dado spoilers já que tudo isso já dava pra ver nos trailers da série. 

John Walker, o novo Capitão América.

A falta de Steve é sentida pelo próprio espectador desde o início do primeiro episódio. Já que Sam e Bucky nunca se falaram muito, era Rogers que fazia a ponte entre os dois. Agora que essa ligação não existe mais, há espaço para que esses personagens tão diferentes entre si possam se relacionar e aprender a trabalhar juntos. Mas até que essa conexão seja estabelicida, as coisas ficam um tanto intruncadas. Gerando uma dinâmica buddy-cop interessante que funciona bem em vários momentos e que se bem trabalhada, pode alavancar a série.

Algo que me deixou desconfortável foi o ritmo acelerado em que as coisas acontecem. Ao contrário de WandaVision que foi se desenrolando sem pressa, aqui tudo acontece muito rápido. Fica difícil pro expectador entender e se preocupar com a ameaça da história com a  forma apressada com que tudo é apresentado. Claro que isso pode ser compensado com episódios mais cadenciados à frente, mas até que aconteça, fica a sensação de que não estamos entendo nada. Nada contra esse estilo de narrativa, mas eu prefiro me acostumar aos poucos com os personagens, acompanhá-los. John Walker, o novo Capitão América sofre com isso. Certamente o personagem pode render muito dentro da série e nesse universo. Confesso que foi o personagem que mais me interessou dentro dos episódios lançados até agora. Muito por ser uma figurinha nova enquanto os protagonistas já conhecemos faz algum tempo. Todavia a apresentação dele é muito corrida. Você não consegue se importar com ele porque ele é simplesmente jogado ali. Seria interessante que ele tivesse tido um pouco mais de tempo em tela até assumir o traje e interagir com os demais perosnagens. Facilitaria se relacionar com ele. Um problema que espero avidamente que seja resolvido ao longo dos demais cápitulos da trama.

Os episódios ainda sofrem um pouco com um erro de roteiro que a Marvel se abituou a cometer em algumas das suas últimas produções: Inserir os personagens numa situação que não faz sentido e nem agrega à história unicamente pra criar as piadas ou repetir a mesma piada excessivamente. A exemplo, a cena de terapia em dupla de Bucky e Sam. Por que raios a psiquiatra de Bucky obriga Sam (e por que ele aceita???) a participar de uma sessão emergencial, sendo que ela não o conhece e ele não é paciente dela? A cena não leva a lugar nenhum e só serve pra criar uma dinâmica cômica (bem fraca) entre os dois personagens e fazer uma explanação tosca do motivo de Bucky estar descontente.  Perceba que esse é o mesmo item que eu elogio no parágrafo anterior. A questão é que há um desnível na qualidade do uso dos recursos narrativos nos dois episódios. Se em determinado momento a dinâmica dos personagens flui bem, é natural e empolga, dez minutos depois ela é forçada e incomoda. 

A cena é desnecessária e forçada.

Do ponto de vista técnico em imagem e som, a produção da série está impecável. A fotografia mantém a unidade visual das produções da marvel com cores vivas, mas não demasiadamente saturadas, e cenas noturnas não escuras demais. No quesito CGI, segue o mesmo padrão também. Tudo bem feitinho. Até melhor do que em alguns dos filmes do estúdio.

A série tem um excelente plot e grande potencial. Mesmo o roteiro precisando de um pouco mais de polimento no que diz respeito aos alívios cômicos e introdução dos personagens, os dois episódios lançados até então entretem tranquilamente o público e devem agradar os fãs das produções do Marvel Studios.

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